Processo criativo 3 – Mônica Bonilha

Como ilustradora, muitas vezes o processo de criação parte da ilustração. Um menino que nasceu de um traço interessante pode virar um personagem. Ou um mundo de cogumelos, onde todas as crianças têm cabelos coloridos, pode se transformar em um livro-imagem.

A ilustração de outros artistas também me inspira e me deixa completamente nas nuvens. Quanta beleza! Quanta imaginação! Ao final desses textos, vou deixar uma lista de autores que me inspiram e ilustradores invejáveis! Poderia dizer “admiráveis”, mas é uma inveja santa mesmo. Quentin Blake!? Quem não admira esse ser? Com traços simples (supercomplexos), ele faz de tudo e te leva para dentro da história!

Um dos livros mais lindos que tenho em minha coleção é Senhorita Prudência. É de uma beleza e fantasia que deixam a gente atônita. Páginas semitransparentes, cores neon e poucas palavras — pouquíssimas!

Também leio as séries Uma Princesa Desastrada e As Aventuras de Mike — autores brasileiros que estão fazendo um sucesso absurdo entre os pequenos! É uma delícia ver a literatura infantil brasileira se erguendo desse jeito, com identidade própria.

Além disso, temos autores indígenas que contam seus contos originários, mostram suas crenças e vivências, nos transportando para outro universo — que não é o de Alice no País das Maravilhas, mas o das Iaras e dos Sacis!

Nesse caso, a ilustração também inspira — são novos traços e cores que discursam sobre a floresta, os trajes e os desenhos na pele, que por aqui chamam de “tribais”. São novas colorações e estilos que marcam nossa identidade.

Assim, meu processo criativo parte desse mix de linguagens: pilhas de livros, pincéis e tintas, tesouras e cola. Para quem olha de fora, parece uma bagunça! Mas nem imagina o tamanho da bagunça dentro da minha cabeça. Ali, tudo se organiza durante a escrita de alguma história. Geralmente, escrevo mais de um livro ao mesmo tempo — um infantil e um adulto. É como viajar para mundos diferentes: passar o dia no Alasca e acordar na Nigéria.

Recentemente, aprendi em um podcast (sigo vários sobre escrita) algo que fez muita diferença. A autora conta: “Num papelão, colo na parede do escritório, personagens do livro que encontro em revistas antigas. Folheando as páginas, olho para determinada menina e penso: ‘Ei! Essa é Melinda!’ E assim finalizo a criação de Melinda.” Ela também cola fotografias de lugares, objetos e tudo o que vai compor a trama.

Como isso me ajudou? Ao definir os personagens, escrevendo abaixo das fotos suas características, idade, propósito, etc., percebi que determinada pessoa não tinha idade para ser mãe de outra, como eu estava planejando.

Hoje, há aplicativos específicos que fazem o mesmo, mas, em um mundo tão digital, gosto da tesoura e da cola. Gosto de ver na minha parede — ou até em um caderninho — a cara do Vinícius e da tia dele, que é uma bruxa.