Faz tempo que a Disney acordou para o vacilo do patriarcado e seu papel em perpetuar essa cultura. O valor da franquia Cinderela, uma das princesas mais icônicas da Disney, vem caindo. O seu filme original de 1950 gerou milhões ao longo dos anos em diversas mídias, produtos e parques. Mas hoje, o total gera não mais de 2,5 bilhões de dólares. Já Mulan, a princesa não branca e sem um príncipe encantado, que teve uma adaptação live-action em 2020, está entre as mais populares, com uma estimativa de mais de 2 bilhões de dólares, considerando os lançamentos de filmes, mercadorias e atrações de parques temáticos. Quem ganha esse campeonato? São as irmãs que também não estão à procura de um príncipe para salvá-las – Elsa e Anna. É uma das maiores franquias da Disney. O valor pode ser estimado em mais de 8 bilhões de dólares, com base em bilheterias de filmes, produtos licenciados, parques temáticos e até musicais da Broadway.
Alguma coisa mudou, não é? Trato a mudança em valores de mercado de consumo, pois o $ demonstra a popularidade do objeto e o valor intrínseco que ele carrega consigo.
E, então, veio o lançamento de Barbie em 2023. Assim, aquela mudança que era vagarosa trouxe uma revolução: a Barbie da Mattel não tem concorrentes. É, sem dúvida, uma das franquias mais icônicas e valiosas do mundo, e seu valor de mercado é impressionante. Apenas uma estimativa que pode estar longe da realidade:
Cerca de 12 bilhões de dólares. Esse número reflete não apenas o impacto histórico da boneca Barbie, mas também seu sucesso contínuo em várias plataformas e produtos desde seu lançamento em 1959. O filme de 2023 arrecadou 1,4 bilhão de dólares, gerando um enorme retorno sobre o investimento, superando amplamente o orçamento de produção de 145 milhões de dólares.
Claro que alguém vai dizer que ela ainda é um estereótipo de mulher magra, loira, etc., etc. Sim, ela é isso também. Sugiro que assista ao filme com uma criança e depois converse sobre ele. Foi minha neta (10) que me levou ao cinema, dizendo:
— Vovó, você vai adorar o filme!
— Mas, sobre o que é esse filme? Mais um filme da Barbie? A gente já viu todos!?
— Esse é sobre o patriarcado.
— Patriarcado? “Nunca ouvi falar disso!”, comentei com cara de espanto, para ver onde ia chegar essa conversa.
— Patriarcado, vovó, é quando os homens fazem as leis e as regras para os homens e para as mulheres. E está errado.
Ela quer uma saia estampada
Sou mãe de duas mães. É muita coisa! Outro dia, minha neta pediu uma saia estampada com mulheres heroínas. Contei algumas histórias que não estavam nos livros dela e ela escolheu as seguintes mulheres para estampar sua saia: Guilhermina, a primeira astronauta; Gisele, a primeira modelo brasileira a ser mais conhecida e mais bem paga no mundo; Daiane dos Santos, a ginasta que criou um salto – duplo carpado; Rita Lee, a roqueira brasileira; Maya Angelou, autora negra com história de empoderamento; Eliane Brum, a jornalista que defende a floresta; Malala, a menina que queria ir para a escola; Greta, a menina que faz greve nas sextas-feiras e mudou o mundo; Marta, a maior jogadora de futebol feminino do planeta.
E o melhor: ela mesma – no seguinte figurino – uma minissaia, bota, uma blusa que apareça a barriga e tocando guitarra. Combinado. Criei a estampa – saia pronta. Foi um ótimo recurso para que ela aprendesse sobre as mulheres da saia.
Não precisa ser uma estampa exclusiva para falar de mulher, mas digo isso porque, à nossa volta, já ouvimos muito sobre os homens. Eles são a pauta do dia, pela manhã e pela noite, para o bem ou para o mal. São eles que comandam as guerras, a tecnologia, o Vale do Silício,
o STF, o futebol, a Liga dos Campeões, e por aí vamos nós. Onde estamos nós?
Esqueçamos as notícias: somos as cantoras famosas? Sim, somos. E tiktokers? Também. Mas não ditamos as regras dos algoritmos, não é?
E que haja muitas saias estampadas, camisetas, roupas de cama e pijamas com mulheres, para que as crianças se lembrem das mulheres que fizeram o mundo ser diferente e daquelas que lutam todos os dias por um mundo melhor. Daquela que pode ser a tia, a avó ou a professora – alguém que está presente no cotidiano da criança e é importante para ela.