Luto é o processo que se inicia com a perda de algo ou alguém significativo.
Para a Profª Drª em Psicologia Clínica Renata Machado, o luto infantil é complexo e possui uma característica única: a criança ainda está aprendendo a formar vínculos quando é assolada pelo rompimento causado por uma perda. É uma situação delicada, que precisa ser tratada com muita sensibilidade. Sabe-se que a criança compreende a morte quando a aceita como algo inexorável e universal (tudo o que é vivo morre). Contudo, independentemente dessa compreensão, a dor da perda gera um vazio profundo, que precisa de espaço para ser sentido e nomeado.
O livro Paraó e Peba é uma ferramenta interessante para iniciar uma conversa com crianças em fase de elaboração de processos de luto. No texto, os peixinhos contam, do seu ponto de vista, como aconteceu o rompimento da barragem em Brumadinho. Contudo, a narrativa pode ser adaptada a outras tragédias. A voz dos peixinhos, apavorados e sem esperança, e a cena solidária em que muitos nadam ao redor de um peixe atolado na lama para resgatá-lo, evocam um futuro de esperança para as crianças que estão em sofrimento.
Nenhuma criança deve engolir o choro. A dor deve levar a momentos íntimos de expressão, em que é possível dizer ou ouvir coisas que, às vezes, ainda não foram ditas.
Muitas vezes, o livro é o canal de que a criança precisa para se abrir. Segundo a psicóloga Drª Renata Machado, especializada em luto e perda, o livro também é uma oportunidade para a criança leitora expressar seu legítimo direito de continuar amando quem ou o que perdeu.
Sobre a Dra. Renata Machado
Doutora em Psicologia Clínica, mestre em Psicologia Social e especialista no atendimento a casais e famílias na área de perdas. Recebeu o Prêmio Oswald de Andrade com a peça infantojuvenil O Menino Minguado, filho da Lua Cheia.